edi prado

É Natal
Édi Prado
Reza a minha alma de joelhos pelo menino sem brinquedos que perdi, na minha pobreza de sempre. A vida ainda traz esperanças, mas agora é feita de saudades do que fui e do que poderia ter sido... Descubro que o nascimento se renova porque Ele ressuscitou e com Ele as esperanças que ainda existem no coração deste menino que envelheceu e conta saudades. Sei que estou escrevendo diferente porque é tempo de Natal e estou de mãos vazias e com os olhos abastados de lágrimas, com o coração sortido de ternura e a alma carregada de angústias. Além disso há as mágoas que me ofertaram e as mágoas que plantei, como um lavrador de desencantos. Mágoas minhas e dos que me amaram. Todavia, é tempo de esperança e encontro pelas ruas o sorriso das crianças. Que elas, pelo menos, possam ser felizes nestes tempos amargos... Tio Alcy Araújo, um dos maiores poetas do Estado do Amapá, já viajou. Mas deixou vários poemas para exames de consciência.


Pois é. O meu coração continua menino e aventureiro. Menino/grande. Embora travesso. É hora de pensar no presente deles com a preocupação do futuro. O nosso já chegou e nem vimos. E olha que esperamos tanto por esse futuro. A professora falava em sala de aula e na Igreja também, na aula de catecismo. Na hora do lazer diziam: esses são o futuro deste País. E olha que já cacei este futuro em todo lugar e só encontrei a esperança e a certeza de que é a única que não morre. Mesmo assim, somos um pouco do Tio Alci: lavradores de desencantos. E quando chega o Natal cantamos com euforia e até em ritmo de carnaval as


Boas Festas: Assis Valente
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem

Assis Valente que havia atentado contra a própria vida por duas vezes, superou-se. Ele não agüentou inverter uma súplica em uma modinha festiva de Natal. E neste período natalino emissoras de rádio do Brasil e do mundo entoam a canção. A transformam numa festiva brincadeira natalina. Dá até vontade de dançar. Mas pouca gente percebe o desencanto de um poeta, clamando pelas crianças pobres e sem esperanças: Eu pensei que fosse uma/Brincadeira de papel/Já faz tempo que eu pedi/Mas o meu Papai Noel não vem/Com certeza já morreu/Ou então felicidade/É brinquedo que não tem. Ainda é tempo. Não para parar e entender a súplica profanada e angustiada de Assis Valente. Mas para fazer uma criança feliz. Ainda há tempo para fazer um natal diferente para quem nem sonho tem mais.

Minha via é um Recreio http://radianterecreio.blogspot.com/2011/02/minha-via-e-um-recreio.html